loader image

Álcool gel: produção industrial e os riscos da produção caseira

Compartilhe:

Nesse conteúdo abordaremos:

  • O álcool em gel como  produto antisséptico;
  • Perigos de se produzir o álcool gel em casa;
  • Como se dá a produção industrial de álcool em gel.

Perigos de se produzir o álcool em gel caseiro

No início do ano de 2020 fomos surpreendidos com um vírus que tomou proporções globais de contaminação. Nesse sentido, o álcool, já utilizado de maneira difundida e essencial em diversas aplicações no nosso cotidiano, teve um aumento de demanda nacional de em média 1.700% na sua forma em gel. 

Assim, diante do contexto de contaminação pelo Covid-19 e com o cálculo da demanda como sendo o dobro da capacidade de produção do início da crise, o setor industrial se mobilizou para o aumento produtivo. Como consequência, diante da escassez, a produção caseira e de álcool em gel falsificado também aumentou.

Nesse contexto, como o uso do produto tem um viés para prevenção de infecção viral, para que de fato o álcool etílico em gel tenha fins antisséptico e desinfetante, a concentração ideal é de 70%. Mas como a determinação da concentração funciona?

Veremos abaixo, entendendo de maneira mais aprofundada como produzir o álcool em gel. De maneira sucinta, há a etapa de destilação, durante a produção do etanol, e é nesta fase que é calculada e definida a concentração alcoólica em solução diluída.  Portanto, as complicações para a produção do álcool em gel de maneira caseira já começam aqui.

O uso de um alcoômetro adequado e controle do processo é essencial para garantir a atuação do álcool  através do rompimento de membranas virais. Ademais, a ação antisséptica aumenta em presença de água, trazendo o problema de soluções concentradas acima de 90%. A faixa ideal para a ação do álcool gel torna-se, portanto, muito restrita.

Outrossim, caso a pessoa já tenha em mãos o álcool em sua concentração ideal, a Anvisa orienta o uso de glicerol como um umectante. Dessa maneira, evita-se o ressecamento da pele e combustão, o que representa mais um processo e reiterando o essencialismo do uso do alcoômetro para análise final da concentração recomendada.

Desse modo, a produção caseira não passa por um controle de qualidade ideal e pode, portanto, agravar a contaminação viral. Além disso, tais desvios podem irritar a pele, ou até mesmo influenciar na gravidade de queimaduras em pessoas que fizeram uso do produto não inspecionado

Como é feito o álcool gel nas indústrias?

Agora que você já entendeu que produzir álcool gel em casa não é algo tão seguro e eficiente quanto parece, que tal entender como isso é feito nas indústrias?

Comparado a outros produtos do ramo de cosméticos e de higiene pessoal, a produção industrial de álcool gel é relativamente simples. De maneira geral, o processo consiste em duas etapas principais: a produção do etanol e a adição de componentes que garantam os aspectos característicos do produto. 

Produção do Etanol

Para essa primeira etapa, as possibilidades de rotas produtivas são muitas, já que o etanol pode ser obtido a partir da fermentação alcoólica de açúcares, os quais, por sua vez, podem advir de diferentes fontes, tais como milho, beterraba, mandioca e cana de açúcar. 

Assim, este processo em si envolve muitas etapas, por vezes complexas, incluindo, dentre outros, estágios de pré tratamento da matéria prima, moagem, fermentação e purificação. Se quiser entender mais a respeito de cada uma dessas etapas, não deixe de acessar nosso conteúdo sobre o etanol de primeira geração!

Dessa maneira, apesar de a produção do álcool ser algo complexo, a fabricação do álcool gel não deixa de ser simples. Isso pois poucas são as empresas do setor que iniciam a produção desde a primeira etapa do processo, ou seja, da produção de álcool a partir de materiais primários como a cana de açúcar. 

Sendo assim, grande parte das indústrias de álcool em gel adquirem o etanol de empresas terceiras, ficando responsável somente pela segunda etapa da produção. 

Adição de componentes específicos ao etanol

Nessa segunda etapa, são adicionados ao etanol reagentes específicos para garantir a qualidade e especificações do produto final. O álcool adquirido de empresas terceiras é vendido com concentração acima de 70%, geralmente com teor alcoólico de 96% (v/v), o equivalente a 92,8% (m/m).

Assim, os compostos a serem adicionados ao etanol permitem o ajuste da viscosidade, pH, densidade e teor alcoólico do álcool em gel. Estes, por sua vez, são incorporados ao álcool, em quantidades bem definidas,  em tanques misturadores. Tais tanques podem apresentar capacidades variáveis de acordo com a escala de produção, podendo comportar de 10 a 3.000 L de produto. 

Em outras palavras, trata-se de um processo em batelada no qual todos os componentes são colocados no interior dos tanques e, após um certo tempo de mistura, o álcool em gel fica pronto.

Mas quais são os principais componentes a serem adicionados nos tanques misturadores? Para responder a essa pergunta, é interessante entender cada uma das características desejadas para o álcool em gel. Comecemos pela viscosidade!

Viscosidade

Você já deve ter percebido que o álcool gel tem uma textura consistente e isso se deve ao fato de ter uma viscosidade considerável. A viscosidade está relacionada à resistência de um fluido ao escoamento. 

Para entender com maior clareza esse conceito, imagine que você derrube um pote de mel e um copo de refrigerante sobre uma mesa. O refrigerante rapidamente molhará toda a mesa e o mel, por outro lado, demorará a se espalhar. Essa diferença no que diz respeito ao escoamento dos dois fluidos sobre a mesa está diretamente relacionada à viscosidade: o mel que se espalhou com maior dificuldade é mais viscoso que o refrigerante.

Assim, para fornecer a viscosidade ideal para o produto em questão, maior que 8.000 cP (centiPoise) segundo resolução da Anvisa (RDC nº 46/2002), podem ser utilizados diferentes compostos, os chamados espessantes. Nesse caso em específico, tais componentes funcionam como agentes gelificantes, formando o gel característico.

Mais comumente é utilizado o polímero Carbopol 940, no entanto, também é possível a utilização de outros, como a goma arábica, hidroxietilcelulose (HNC) e a carboximetilcelulose sódica (CMC). Independente do componente escolhido, deve ser realizada uma análise para entender a quantidade ideal a fim de se atingir a viscosidade esperada, que pode ser medida através de um viscosímetro.

Acidez – pH

No caso do Carbopol 940, este componente apresenta caráter ácido e, por isso, a acidez da solução deve ser neutralizada. Assim, o pH do produto deve estar em torno de 7,0, ou seja, o álcool gel deve ser neutro, evitando-se, assim, possíveis irritações na pele. 

Para realizar o ajuste do pH são utilizados os chamados neutralizantes, sendo a Trietanolamina (TEA) o mais comum deles.

Teor Alcoólico

Por fim, como comentado anteriormente, é importantíssimo que o álcool em gel apresente 70% (m/m) de álcool em sua composição, pois só assim terá  eficácia máxima no combate a vírus e bactérias. Assim sendo, como o álcool utilizado no processo produtivo geralmente tem concentração de 92,8 % (m/m), é necessário que se dilua a solução para atingir o teor adequado.
Desse modo, utiliza-se de quantidade previamente calculada de água desmineralizada para diluir a solução e obter o produto desejado.

Controle de qualidade e envase do produto

Uma vez que todos os componentes foram adicionados ao etanol, o produto final deve passar por uma série de testes para a garantia da qualidade. Assim, são realizados testes de pH, viscosidade e teor alcoólico. 

Quando todos os parâmetros estiverem dentro das especificações, é o momento de envase, ou seja, de adicionar o produto à embalagem de interesse. Normalmente são utilizadas embalagens plásticas, de PET, dos mais variados volumes. 

No entanto, embora o PET seja um material reciclável, algumas opções mais sustentáveis estão começando a ser utilizadas. Um bom exemplo disso é a Klabin que além de ter desenvolvido uma formulação inovadora para o produto, desenvolveu, também, uma embalagem biodegradável a partir de papel kraft.

Imagem de autoria da Propeq representando de maneira simples as etapas envolvidas na produção do álcool em gel

Ficou interessado em produzir álcool gel ou deseja melhorar a qualidade da sua produção?

Agora que você já sabe todos os desafios, especificidades e pontos essenciais de controle de qualidade para a garantia de um produto final dentro das especificações da Anvisa, que tal tirar a sua ideia do papel e também começar a produzir um novo produto? 

Para garantir que você tenha todo o embasamento técnico nesse momento, a Propeq realiza os serviços de Briefing de Produtos e Pesquisa de Rotas Produtivas. Nestes, nos baseamos na literatura disponível, dentro e fora da Unicamp, para entregar aos nossos clientes todas as informações necessárias para o desenvolvimento de um novo produto ou processo.

Além disso, também realizamos Análises de Viabilidade para garantir um investimento mais seguro e assertivo aos nossos clientes.
Ficou interessado(a)? Entre em contato com um especialista no botão abaixo!

Postagens Recentes

Uncategorized

Como produzir polpas de frutas

A produção de polpas de frutas congeladas é uma solução prática e sustentável para preservar frutas sazonais, reduzir desperdícios e atender à crescente demanda por

Blog

Processamento de Polímeros

O processamento de polímeros está no coração de diversas indústrias, de embalagens e eletrônicos até a construção civil e a medicina. Sua versatilidade, durabilidade e

Assine nossa newsletter e fique por dentro das principais novidades da indústria e do mundo!